Podia ser um sábado, um domingo pela tarde ou, durante as férias. Qualquer dia em que a víssemos desocupada, ela adivinhava que iríamos fazer nosso pedido: “Mamita, conte-nos um conto!”. Com um sorriso desenhado nos olhos e nos lábios, nossa avó dirigia-se à sua poltrona e se preparava para seu tradicional “Era uma vez em um reino distante...” que descortinava um mundo de fantasia pelo qual nos conduzia com doçura. Os irmãos — éramos cinco — instalávamo-nos ao seu redor e nós deixávamos transportar, pelos seus tapetes mágicos, a esses reinos remotos que nos havia anunciado. Ninguém se movia nem ousava interrompê-la. Assim conhecemos uma galeria de personagens extraordinários: bruxas malvadas, princesas encantadoras, e às vezes encantadas, ogros famintos de carne humana, anões prestativos, fadas benfeitoras, madrastas, reis e rainhas, assim como uma infinidade de objetos mágicos e, sobretudo, muitos heróis. Um parágrafo à parte merecem aqueles personagens que conheciam a linguagem dos